Concertos
April 2024
Entrada Livre
Entrada Livre
Em Dezembro de 1777, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) procurava obter um cargo na musicalíssima Corte de Mannheim. Aí foi apresentado a Ferdinand Dejan (1731-1797), médico e flautista amador, que lhe encomendou “3 pequenos, curtos e fáceis concertos e alguns quartetos com flauta”, pela consi- derável quantia de 200 gulden. Contudo, Mozart não completou a encomenda, não sendo claro o motivo para tal. Escrito em meados de 1778, o quarteto K.285b foi o último dos 3 quartetos compostos. Com apenas dois andamentos, a um gracioso Allegro, segue-se um lírico Andantino com seis variações.
Encomenda do Quarteto Camões, a quem é dedicado, para ser estreado no Festival Dias da Música, em 2019, no Centro Cultural de Belém, o quarteto Seven ages of man de Tiago Derriça (1986) está divido em sete andamentos, as sete fases da vida do Homem, da infância ao seu declínio e morte, partin- do de sonetos e excertos de peças de William Shakespeare (1564-1616). Serão interpretados o 3o andamento, Love [Amor], segundo o soneto 116 (1609), e o 7o e último andamento, Death [Morte], segundo a cena 1a do 4o acto da peça A Tempestade (1611).
Ao invés de maioria dos compositores barrocos, cujos concertos têm como base estrutural as aberturas de ópera italiana, na fórmula rápido-lento-rápido, Georg Philipp Telemann (1681-1767) preferia o modelo da sonata da chiesa, lento-rápido-lento-rápido, segundo o estilo de Arcangelo Corelli (1653-
1713). O duplo concerto para Flautas TWV52:E1 (flauta de bisel e flauta transversal) obedece a essa estrutura. Elegantemente contrastante, o diálogo incandescente entre as flautas, pleno de dissonâncias, vai-se desenrolando sob um panejamento orquestral discreto,
de forma plangente no 1o andamento, virtuosa no 2o andamento. Ao lirismo extático do 3o andamento sucede-se um rodopiante e conclusivo rondo alla turca, pleno de exotismo.
May 2024
Entrada Livre.
O concerto da 2a edição do Prémio Internacional de Composição Darcos convoca dois compositores díspares na forma e conteúdo, mas em que a erudição, a Fé, e o panejamento onírico são pilares da sua discursividade musical.
Considerado um dos compositores mais fascinantes do século XX, Olivier Messiaen (1908-1992) estava estacionado na base militar de Verdun quando, em meados de Junho de 1940, em plena invasão de França pelas tropas nazis, foi capturado e enviado para um campo de concentração de prisioneiros de guerra, o Stalag VIII-A, em Görlitz, Alemanha. Com ele seguiram Etienne Pasquier (violoncelista) e Henri Akoka (clarinetista), ao que se veio juntar o ator e violinista amador Jean Le Btoulaire.
A 15 de Janeiro de 1941, no Barracão 27 de Stalag VIII-A, estreava um quarteto para violino, violoncelo, clarinete e piano.
Nas palavras de Messiaen, “para o fim dos tempos”, um ato de fé, evocativo do fim dos conceitos de Passado e Futuro, o “início da eternidade”, o quarteto está divido em oito partes, as primeiras sete correspondem aos sete dias da criação e o último à “luz indefectível, da inalterável paz”. Em concerto, ouviremos apenas as partes V e VIII.
Figura incontornável das últimas dé- cadas no panorama musical português, Eurico Carrapatoso (1962) assume a tonalidade, a música tradicional, a citação e o humor como instrumentos ao serviço da sua personalidade criativa, recursos estilísticos pouco usuais na era pós-moderna, longe dos pressupostos estéticos da contemporaneidade mas profundamente enquadrados numa estética pessoal refinada e numa intertextualidade luxuriante.
Composta em 2009, encomenda da Temporada Darcos, O Espelho da Alma, op.56, tem como subtítulo Subsídios para o estudo de uma orografia musical portuguesa.
Para violino, viola, violoncelo e piano, é constituída por sete andamentos, baseados em melodias tradicionais portuguesas, definindo um périplo, segundo o compositor, em torno “de várias personagens psicológicas”, Eterno, Pírrico, Sedoso, Careto, Saudoso, Pícaro e Materno, “com que encerra e que consiste num embalo transmontano”. Diz-nos ainda que esta obra percorre “um património da Humanidade que faz parte do dia-a-dia, no qual estas cantigas tradicionais concebem o que é o paradigma rural português genuíno e antigo”. Espelho da Alma é o ponto de partida para as obras a concurso nesta 2a edição.
June 2024
Co-produção entre Festival Estoril Lisboa e Temporada Darcos
Nuno Côrte-Real / direção musical
ENSEMBLE DARCOS
Para o reputado ensaísta Donald Mitchell (1925-2017), a 5a Sinfonia de Gustav Mahler (1860-1911) “inicia um novo conceito de drama interior”, no qual um eventual conteúdo programático já não reside na voz, ou em textos explicativos, antes “passou para a clandestinidade”, para a profundeza da psique do compositor. Tela musical gigante, de um alcance emocional inaudito, a 5a Sinfonia foi escrita entre 1901 e 1902 e estreada em Outubro desse ano, em Colónia. Descontente com o resultado, Mahler faria revisões constantes desta sinfonia até à sua morte. No concerto de hoje, ouviremos o arranjo para ensemble instrumental de Klaus Simon (1968), realizado em 2014 por encomenda da Holst-Sinfonietta. De carácter conflituoso, ao convocar, num mesmo espaço a mais esfusiante das alegrias e a mais transcendente das tristezas, a 5a sinfonia parece querer falar das incertezas fundamentais do nosso tempo.
A 1a secção desta sinfonia compreende os dois andamentos iniciais. Inquieto e desolador, o primeiro andamento começa com uma fanfarra aparamente vitoriosa que, rapidamente, se dilui numa dolente marcha fúnebre.
O segundo andamento, apesar do frenesim que o trespassa, parece querer ascender a um estado de relativo optismo, caindo repetidamente numa angústia indizível. O mítico maestro Wilhelm Furtwängler (1886-1954) dizia sobre este andamento, “Não conheço nenhuma outra música que possa levar-me a um estado de espírito mais pessimista. Desvaloriza tudo o que ainda pode parecer valioso para nós neste mundo sombrio”. A 2a secção da sinfonia é constituída pelo terceiro andamento, Scherzo, longo, dominado por um ritmo ternário, vagamente nostálgico, vagamente frívolo, ensaiando uma visão mais positiva da vida. A 3a secção compreendo os dois andamentos finais. Tendo entrado na cultura popular pela mão do realizador Luchino Visconti (1906-1976), ao funcionar como no filme Morte em Veneza (1971), baseado na obra homónima (1912) de Thomas Mann (1875-1955), o famoso Adagietto parece querer distanciar-se das tensões. Erroneamente associado à morte, parafraseia a canção de Rückert “Eu moro sozinho no meu céu, no meu amor, na minha canção”. O movimento final e possui um caráter exuberante. Luz e trevas confrontam-se uma última vez, num clímax musical apocalíptico.
Co-produção entre Festival Estoril Lisboa e Temporada Darcos
Nuno Côrte-Real / direção musical
ENSEMBLE DARCOS
Para o reputado ensaísta Donald Mitchell (1925-2017), a 5a Sinfonia de Gustav Mahler (1860-1911) “inicia um novo conceito de drama interior”, no qual um eventual conteúdo programático já não reside na voz, ou em textos explicativos, antes “passou para a clandestinidade”, para a profundeza da psique do compositor. Tela musical gigante, de um alcance emocional inaudito, a 5a Sinfonia foi escrita entre 1901 e 1902 e estreada em Outubro desse ano, em Colónia. Descontente com o resultado, Mahler faria revisões constantes desta sinfonia até à sua morte. No concerto de hoje, ouviremos o arranjo para ensemble instrumental de Klaus Simon (1968), realizado em 2014 por encomenda da Holst-Sinfonietta. De carácter conflituoso, ao convocar, num mesmo espaço a mais esfusiante das alegrias e a mais transcendente das tristezas, a 5a sinfonia parece querer falar das incertezas fundamentais do nosso tempo.
A 1a secção desta sinfonia compreende os dois andamentos iniciais. Inquieto e desolador, o primeiro andamento começa com uma fanfarra aparamente vitoriosa que, rapidamente, se dilui numa dolente marcha fúnebre.
O segundo andamento, apesar do frenesim que o trespassa, parece querer ascender a um estado de relativo optismo, caindo repetidamente numa angústia indizível. O mítico maestro Wilhelm Furtwängler (1886-1954) dizia sobre este andamento, “Não conheço nenhuma outra música que possa levar-me a um estado de espírito mais pessimista. Desvaloriza tudo o que ainda pode parecer valioso para nós neste mundo sombrio”. A 2a secção da sinfonia é constituída pelo terceiro andamento, Scherzo, longo, dominado por um ritmo ternário, vagamente nostálgico, vagamente frívolo, ensaiando uma visão mais positiva da vida. A 3a secção compreendo os dois andamentos finais. Tendo entrado na cultura popular pela mão do realizador Luchino Visconti (1906-1976), ao funcionar como no filme Morte em Veneza (1971), baseado na obra homónima (1912) de Thomas Mann (1875-1955), o famoso Adagietto parece querer distanciar-se das tensões. Erroneamente associado à morte, parafraseia a canção de Rückert “Eu moro sozinho no meu céu, no meu amor, na minha canção”. O movimento final e possui um caráter exuberante. Luz e trevas confrontam-se uma última vez, num clímax musical apocalíptico.
July 2024
Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real em estreia absoluta
No aclamado filme de Wim Wenders (1945), As Asas do Desejo (1997), um anjo abdica da sua imortalidade perante uma paixão que o consome. Neste conflito entre o divino e o efémero, a eternidade e a vida, a acção desenrola-se numa cidade de Berlim, ainda dividida por um muro, mergulhada numa atmosfera elegíaca. Parafraseando este filme, o concerto Nas Asas do Indefinido apresenta um benévolo conflito entre jazz, fado, canções originais e clássicos da cultura ocidental, uma fábula musical envolvente onde a multiplicidade de caminhos conduz o ouvinte não à chegada mas à partida, num depurar da essência do que é a Música.
Há muito radicada em Roterdão, Maria Mendes (1985) é uma das vozes mais aclamadas do jazz europeu, destacando- -se por fazer da língua portuguesa o seu principal veículo de expressão musical. Sendo a única artista portuguesa no feminino a receber uma nomeação para os Grammy Latino, em 2020 venceu o prestigiado EDISON Jazz Awards. A sua recente incursão pelo fado, Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real em estreia absoluta.
ENSEMBLE DARCOS demonstra qualidades caleidoscópicas, secundadas por Nuno Côrte-Real (1971) e o Ensemble DARCOS, numa expectável cumplicidade entre dois músicos que têm marcado o seu percurso musical por um olhar inquiridor e descomplexado, explosivo na forma como cruzam estilos e universos sonoros.
Nas Asas do Indefinido tem como motivo unificador o tema do 1o andamento do trio op.97 de Beethoven (1770-1827), uma idée fixe que, ao contrário da canónica definição, estabelece pontes etéreas por onde todos somos convidados a circular.
Se a obra de Wenders pauta-se por um estático preto-e-branco, quase a raiar a distopia, são os matizes cromáticos de cada uma das peças convocadas neste concerto que se sobrepõem, qual composição feérica e utópica. Como escreveu Fernando Pessoa (1888- 1935), “O sonho é ver formas invisíveis / da distância imprecisa, e, com sensíveis / movimentos da esperança e da vontade”
Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real em estreia absoluta
No aclamado filme de Wim Wenders (1945), As Asas do Desejo (1997), um anjo abdica da sua imortalidade perante uma paixão que o consome. Neste conflito entre o divino e o efémero, a eternidade e a vida, a acção desenrola-se numa cidade de Berlim, ainda dividida por um muro, mergulhada numa atmosfera elegíaca. Parafraseando este filme, o concerto Nas Asas do Indefinido apresenta um benévolo conflito entre jazz, fado, canções originais e clássicos da cultura ocidental, uma fábula musical envolvente onde a multiplicidade de caminhos conduz o ouvinte não à chegada mas à partida, num depurar da essência do que é a Música.
Há muito radicada em Roterdão, Maria Mendes (1985) é uma das vozes mais aclamadas do jazz europeu, destacando- -se por fazer da língua portuguesa o seu principal veículo de expressão musical. Sendo a única artista portuguesa no feminino a receber uma nomeação para os Grammy Latino, em 2020 venceu o prestigiado EDISON Jazz Awards. A sua recente incursão pelo fado, Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real em estreia absoluta.
ENSEMBLE DARCOS demonstra qualidades caleidoscópicas, secundadas por Nuno Côrte-Real (1971) e o Ensemble DARCOS, numa expectável cumplicidade entre dois músicos que têm marcado o seu percurso musical por um olhar inquiridor e descomplexado, explosivo na forma como cruzam estilos e universos sonoros.
Nas Asas do Indefinido tem como motivo unificador o tema do 1o andamento do trio op.97 de Beethoven (1770-1827), uma idée fixe que, ao contrário da canónica definição, estabelece pontes etéreas por onde todos somos convidados a circular.
Se a obra de Wenders pauta-se por um estático preto-e-branco, quase a raiar a distopia, são os matizes cromáticos de cada uma das peças convocadas neste concerto que se sobrepõem, qual composição feérica e utópica. Como escreveu Fernando Pessoa (1888- 1935), “O sonho é ver formas invisíveis / da distância imprecisa, e, com sensíveis / movimentos da esperança e da vontade”
October 2024
M. Ravel (1875 – 1937) Sonata para Violino e Violoncelo
I. Allegro
II. Très vif
III. Lent
IV. Vif, avec entrain
P. Faria Gomes (n. 1979)
Elegia para violoncelo solo
W. A. Mozart (1756 – 1791)
Divertimento para trio de cordas em Mib Maior, K.
I. Allegro
II. Adagio
III. Minuetto (allegretto) IV. Andante
ENSEMBLE DARCOS
M. Ravel (1875 – 1937) Sonata para Violino e Violoncelo
I. Allegro
II. Très vif
III. Lent
IV. Vif, avec entrain
P. Faria Gomes (n. 1979)
Elegia para violoncelo solo
W. A. Mozart (1756 – 1791)
Divertimento para trio de cordas em Mib Maior, K.
I. Allegro
II. Adagio
III. Minuetto (allegretto) IV. Andante
ENSEMBLE DARCOS
November 2024
Encomenda do Teatro Nacional de São Carlos a Nuno Côrte-Real (1971), a ópera Banksters estreou em 2011, com libreto de Vasco Graça Moura (1942- 2014), segundo a peça de teatro Jacob e o Anjo (1930) de José Régio (1901- 1969). O nome resulta da junção da palavra bankers [banqueiros] com gangsters [bandidos]. Santiago Malpago, grande senhor da finança, é visitado por Angelino Rigoletto (anjo ou demónio?) com a missão óbvia de levar o banqueiro à ruina, ardil lançado por Mimi Kitsch, mulher de Santiago, de uma ambição desmesurada. Em estreia absoluta, a Banksters Suite (2024) recupera os principais ambientes sonoros da ópera, assumindo-se como uma narrativa sem palavras.
Figura de referência do panorama musical francês, Marc-Olivier Dupin (1954) compôs Variações sobre a Traviata de Verdi em 2011, uma sucessão das principais melodias da famosa ópera (1853) do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901).
Por último, a Sinfonia n.o 6, op.68, composta num período particularmente difícil da vida de Ludwig van Beethoven (1770-1827), em que a surdez se manifestava de forma irreversível. Esboçada em 1802, o grosso da sua escrita decorreu entre 1806 e 1808, enquanto a Sinfonia n.o5, op.67, era terminada. Em plena segunda fase criativa, o chamado estilo heróico, Beethoven utiliza a Música enquanto meio para expressar realidades e conteúdos extra- musicais, uma retórica musical relacionada com a evocação explícita de retratos poéticos da vida rural, não numa lógica narrativa antes sensorial.
Não por acaso, o título original era Lembranças da Vida Campestre, passando a Pastoral pouco tempo antes da sua estreia, a 22 de Dezembro de 1808, em Viena, no concerto em que, igualmente, estrearia a Sinfonia n.o 5, o Concerto para piano n.o4, op.58, e a Fantasia Coral, op.80. No programa de sala desse concerto, Beethoven fez imprimir uma pequena legenda explicativa para cada andamento.
Em forma sonata, o 1o andamento evoca o Despertar de sentimentos alegres na chegada ao campo. Profundamente sereno, o 2o andamento corresponde a uma Cena à beira do riacho, que termina elegantemente com o chilrear dos pássa- ros. Segue-se o Alegre convívio de camponeses, interrompido pelos Trovões e tempestade. Às melodias propositadamente rústicas segue-se uma violenta tempestade, na tradição barroco- -clássica, cheia de efeitos onomatopaicos. Por último, o Canto do pastor: sentimentos alegres e gratos após a tempestade, hino de gratidão para com a Natureza.
N. Côrte-Real (n. 1971)
Banksters Suite (da ópera Banksters)
I. Visão diabólica e luta II. Santiago Malpago III. Mimi Kitch
IV. Angelino Rigoletto V. Redenção final
Marc-Olivier Dupin (n.194 ... )
Variações sobre a Traviatta de G. Verdi
L. van Beethoven (1770 – 1827)
Sinfonia no 6 em Fa Maior “Pastoral”, op. 93
I. Allegro ma non troppo II. Andante molto moto III. Allegro
IV. Allegro
V. Allegretto
Mihaela Costea, /violino
Nuno Côrte-Real / direção musical
FILARMONICA ARTURO TOSCANINI
Encomenda do Teatro Nacional de São Carlos a Nuno Côrte-Real (1971), a ópera Banksters estreou em 2011, com libreto de Vasco Graça Moura (1942- 2014), segundo a peça de teatro Jacob e o Anjo (1930) de José Régio (1901- 1969). O nome resulta da junção da palavra bankers [banqueiros] com gangsters [bandidos]. Santiago Malpago, grande senhor da finança, é visitado por Angelino Rigoletto (anjo ou demónio?) com a missão óbvia de levar o banqueiro à ruina, ardil lançado por Mimi Kitsch, mulher de Santiago, de uma ambição desmesurada. Em estreia absoluta, a Banksters Suite (2024) recupera os principais ambientes sonoros da ópera, assumindo-se como uma narrativa sem palavras.
Figura de referência do panorama musical francês, Marc-Olivier Dupin (1954) compôs Variações sobre a Traviata de Verdi em 2011, uma sucessão das principais melodias da famosa ópera (1853) do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901).
Por último, a Sinfonia n.o 6, op.68, composta num período particularmente difícil da vida de Ludwig van Beethoven (1770-1827), em que a surdez se manifestava de forma irreversível. Esboçada em 1802, o grosso da sua escrita decorreu entre 1806 e 1808, enquanto a Sinfonia n.o5, op.67, era terminada. Em plena segunda fase criativa, o chamado estilo heróico, Beethoven utiliza a Música enquanto meio para expressar realidades e conteúdos extra- musicais, uma retórica musical relacionada com a evocação explícita de retratos poéticos da vida rural, não numa lógica narrativa antes sensorial.
Não por acaso, o título original era Lembranças da Vida Campestre, passando a Pastoral pouco tempo antes da sua estreia, a 22 de Dezembro de 1808, em Viena, no concerto em que, igualmente, estrearia a Sinfonia n.o 5, o Concerto para piano n.o4, op.58, e a Fantasia Coral, op.80. No programa de sala desse concerto, Beethoven fez imprimir uma pequena legenda explicativa para cada andamento.
Em forma sonata, o 1o andamento evoca o Despertar de sentimentos alegres na chegada ao campo. Profundamente sereno, o 2o andamento corresponde a uma Cena à beira do riacho, que termina elegantemente com o chilrear dos pássa- ros. Segue-se o Alegre convívio de camponeses, interrompido pelos Trovões e tempestade. Às melodias propositadamente rústicas segue-se uma violenta tempestade, na tradição barroco- -clássica, cheia de efeitos onomatopaicos. Por último, o Canto do pastor: sentimentos alegres e gratos após a tempestade, hino de gratidão para com a Natureza.
N. Côrte-Real (n. 1971)
Banksters Suite (da ópera Banksters)
I. Visão diabólica e luta II. Santiago Malpago III. Mimi Kitch
IV. Angelino Rigoletto V. Redenção final
Marc-Olivier Dupin (n.194 ... )
Variações sobre a Traviatta de G. Verdi
L. van Beethoven (1770 – 1827)
Sinfonia no 6 em Fa Maior “Pastoral”, op. 93
I. Allegro ma non troppo II. Andante molto moto III. Allegro
IV. Allegro
V. Allegretto
Mihaela Costea, /violino
Nuno Côrte-Real / direção musical
FILARMONICA ARTURO TOSCANINI
December 2024
André Henriques / barítono
Helder Marques / piano
Num Mundo globalizado, em que o Natal se metamorfoseou numa sucessão de lugares comuns, mais materiais que espirituais, é, ainda, a Música, a sustentar parte do seu carácter espiritual, do convite à concórdia e paz entre os homens.
Mestre em Opera Performance pelo Royal Welsh College of Music and Drama, Cardiff, André Henriques é uma das vozes mais fascinantes do panorama musical português, trazendo a concerto um repertório transversal e que nos conduz por paisagens musicais diversas.
Começamos pela ópera com o humorado Fado do Macaco, da Canção do Bandido (2018), com música de Nuno Côrte-Real (1971) e letra de Pedro Mexia (1972). Segue-se a ária Eine Hex’, steinalt, da ópera Hansel und Gretel (1891-1892) de Engelbert Humperdinck (1854-1921).
Para todos aqueles que vivem apartados dos seus, a saudade de casa é particularmente premente neste período. Do País de Gales ouviremos My little welsh home (1950) de Gwynn Williams (1896-1978) e Meu Alentejo, uma das letras mais inspiradas do cancioneiro tradicional português.
Chegados ao Barroco, a ária “Großer Herr”, que celebra a dignidade régia de Jesus recém-nascido, da Cantata I da Oratória de Natal. Escrita por Johann Sebastian Bach (1685-1750) para as festividades natalícias de 1734-35, a Oratória de Natal é um ciclo de 6 cantatas para cada uma das 6 festas religiosas entre o Dia de Natal e a Festa da Epifania.
Seguem-se três árias da oratória The Messiah de Georg Friedrich Händel (1685-1759), com libreto de Charles Jennens (1700-1773). Haverá poucas obras do repertório clássico com o impacto desta oratória ao longo dos séculos, sendo, no contexto da História da Música Ocidental, a primeira obra a ser apresentada em concerto, de forma continuada, desde a sua estreia, em 1742, até ao presente. Na ária The people that walked, Cristo é a Luz que virá, em Why do the nations, o ungido injustamente acusado e em The trumpet shall sound o juiz que dará a vida eterna.
Por último, The roadside fire, do ciclo Songs of Travel (1904) de Vaughan Williams (1872-1958), com poemas de Robert Stevenson (1850-1894), Still, Still, Still, canção tradicional de Salzburgo (Áustria), e Away in a manger, a popular canção natalícia de Chicago (E.U.A.)
André Henriques / barítono
Helder Marques / piano
Num Mundo globalizado, em que o Natal se metamorfoseou numa sucessão de lugares comuns, mais materiais que espirituais, é, ainda, a Música, a sustentar parte do seu carácter espiritual, do convite à concórdia e paz entre os homens.
Mestre em Opera Performance pelo Royal Welsh College of Music and Drama, Cardiff, André Henriques é uma das vozes mais fascinantes do panorama musical português, trazendo a concerto um repertório transversal e que nos conduz por paisagens musicais diversas.
Começamos pela ópera com o humorado Fado do Macaco, da Canção do Bandido (2018), com música de Nuno Côrte-Real (1971) e letra de Pedro Mexia (1972). Segue-se a ária Eine Hex’, steinalt, da ópera Hansel und Gretel (1891-1892) de Engelbert Humperdinck (1854-1921).
Para todos aqueles que vivem apartados dos seus, a saudade de casa é particularmente premente neste período. Do País de Gales ouviremos My little welsh home (1950) de Gwynn Williams (1896-1978) e Meu Alentejo, uma das letras mais inspiradas do cancioneiro tradicional português.
Chegados ao Barroco, a ária “Großer Herr”, que celebra a dignidade régia de Jesus recém-nascido, da Cantata I da Oratória de Natal. Escrita por Johann Sebastian Bach (1685-1750) para as festividades natalícias de 1734-35, a Oratória de Natal é um ciclo de 6 cantatas para cada uma das 6 festas religiosas entre o Dia de Natal e a Festa da Epifania.
Seguem-se três árias da oratória The Messiah de Georg Friedrich Händel (1685-1759), com libreto de Charles Jennens (1700-1773). Haverá poucas obras do repertório clássico com o impacto desta oratória ao longo dos séculos, sendo, no contexto da História da Música Ocidental, a primeira obra a ser apresentada em concerto, de forma continuada, desde a sua estreia, em 1742, até ao presente. Na ária The people that walked, Cristo é a Luz que virá, em Why do the nations, o ungido injustamente acusado e em The trumpet shall sound o juiz que dará a vida eterna.
Por último, The roadside fire, do ciclo Songs of Travel (1904) de Vaughan Williams (1872-1958), com poemas de Robert Stevenson (1850-1894), Still, Still, Still, canção tradicional de Salzburgo (Áustria), e Away in a manger, a popular canção natalícia de Chicago (E.U.A.)
Danças tradicionais portuguesas revisitadas
Canções de Natal
N. Côrte-Real (n. 1971) Folias (Novíssimo Cancioneiro - Livro Terceiro)
Nuno Côrte-Real / arranjos e direção musical
Pedro Teixeira / maestro do Coro
CORO RICERCARE ENSEMBLE DARCOS
Longe vão os tempos em que a Política do Espírito de António Ferro (1895- 1956) produziu uma imagem idealizada da arte popular ao serviço propagandístico do Estado Novo, enfatizando a pretensa unidade identitária de um universo rural matizado. Ao longo das últimas décadas, a música e a dança, enquanto expressões da alma, representando a identidade social de uma comunidade, em ambientes marcados pela pobreza, idiossincrasias do universo masculino e feminino, interpen- etração do sacro e do profano, exclusi- vamente assentes na tradição oral, foram sendo expostas à permanente mutação e recriação. Este fenómeno, que se conven- cionou chamar de cosmopolitismo, parte da tradição, enquanto legado imaterial transmitido, respeitado mas mutável, identidade e autenticidade, enquanto genuíno e inalterado. Assim, muitos foram os compositores que convocaram discursos musicais externos, conferindo uma dimensão superlativa a este patrimó- nio identitário. Depois do Livro Primeiro, op.12 (versando sobre repertório de norte a sul do país e, ainda, da Galiza) e do Livro Segundo, op.57 (integralmente dedicado ao cante alentejano da cidade de Serpa), chega-nos o Livro Terceiro do Novíssimo Cancioneiro de Nuno Côrte-Real (n. 1971), dedicado a danças tradicionais portuguesas. Partindo da Folia, dança presumivelmente de origem ibérica, cuja primeira referência surge pela mão do dramaturgo Gil Vicente (fl. 1465- 1536), Côrte-Real revisita o fandango, a chula, os pauliteiros, e tantas outras que configuram-se como exemplares do pulsar tradicional português. Narrativa abstrata e não linear, este Livro Terceiro procura uma dinâmica musical em que a palavra assume-se como veículo expressivo da fonética ganhando uma dimensão percussiva. Igualmente, teremos o Coro Ricercare e o Ensemble Darcos, numa parceria que ao longo dos anos tem-se revelado frutífera, e a quem devemos a estreia e gravação dos livros Primeiro e Segundo.