ORQUESTRA SINFÓNICA DE BERLIM (SYMPHONIKER) > 23 & 24 ABRIL

Nuno Côrte-Real, direção musical

BERLINER SYMPHONIKER

13 de abril / domingo, 15:30 – Philharmonie, Berlim
23 de abril / quarta-feira, 21:00 – Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra
bilhetes à venda nos locais habituais
24 de abril / quinta-feira, 21:00
Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa
entrada gratuita

W. A. Mozart (1756 – 1791)

Abertura da ópera “A flauta mágica”
N. Côrte-Real (n. 1971) Sinfonia 2022
I. In search of darkness II. Song of death
III. Fado (apocalyptic song) IV. Nuclear marching band


J. Brahms (1833 – 1897)
Sinfonia N0 1, em Dó menor, op. 68
I. Un poco sostenuto – Allegro
II. Andante sostenuto
III. Un poco allegretto e graciozo
IV. Adagio – Più andante – Allegro non troppo, ma con brio – Più allegro

Considerada como uma das principais orquestras da Alemanha, a Berliner Symphoniker começou a sua actividade em 1967, sendo então denominada Symphonisches Orchester Berlin. Renomeada em 1990, é a 1a vez que actua em Portugal.
Die Zauberflöte [A Flauta Mágica], kv620, é a derradeira ópera de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), tendo estreado em Viena, a 30 de Setembro de 1791, a escassas semanas da morte do compositor. Conta a história de 2 príncipes apaixonados, Tamino e Pamina, que triunfam sobre os tremendos obstáculos que lhes são colocados, por entre cerimoniais iniciáticos, simbologia esotérica (o número 3) e magia infantil, da autoria de Emanuel Schikaneder (1751-1812). Graças a Mozart, e à variedade de soluções musicais convocada, a ópera revela uma coerência dramática espantosa. A Abertura, hoje em concerto, consiste na fórmula musical ABAB, em que A corresponde a um solene Adagio, três acordes ascendentes (o número 3 e a sua simbologia) e B a um Allegro fugato, demonstração da perícia contrapontística mozartiana, a que se vem juntar um sinuoso tema secundário no oboé e flauta.
A Sinfonia 2022, de Nuno Côrte-Real (1971), resulta de uma encomenda do Teatro Nacional de São, aí tendo estreado a 13 de Janeiro de 2023, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida pelo compositor. Obra de carácter “sombrio, tétrico e ominoso”, nas palavras de Côrte-Real, é uma “visão pessoal e espiritual” sobre a indefinição violenta que fustiga a civilização, sem abdicar da sua imagética plena de ironia. O 10 andamento apresenta um ostinato que nos suga para um vortex, o 20, de pendor mahleriano, o 30 andamento, um fado, momento de leveza dolente face à complexidade da vida e um 40 andamento, uma marcha grotesca rumo à destruição total.
Concluída em finais de 1876, após um longo processo criativo de mais de 20 anos, a Sinfonia n.0 1, em Dó menor, op. 68, de Johannes Brahms (1833-1897) estreou a 4 de Novembro de 1876, no Großherzogliche Hoftheater de Karlsruhe, sob direção de Felix Otto Dessoff (1835-92). À época, Brahms era encarado como o herdeiro de Beethoven (1770-1827) e da tradição sinfónica germânica, por oposição à música do futuro (a progressiva dissolução da forma e da harmonia tradicional) de Liszt (1811- 86) e Wagner (1813-83). De arquitetura musical sólida, a sinfonia assenta numa série de quadros sonoros contrastantes, de subtilezas rítmicas, cores e planos sonoros originais, partindo da habilidade de Brahms para trabalhar os temas melódicos. O 10 e 40 andamento complementam-se: a tensão e inquietude iniciais dão lugar ao otimismo heróico do último. O 20 andamento é de carácter intimista e bucólico, ao passo que o 30 andamento, o scherzo com ecos do imaginário pastoril campestre qual caminhante pelo campo.

MASSIMO SPADANO & ENSEMBLE DARCOS > 15 & 16 MAR

15 março, sábado / 18:30 Museu do Dinheiro, Lisboa
entrada gratuita mediante inscrição brunamoreira.darcos@gmail.com
16 março, domingo / 17:00
Hotel Dolce Camporeal Lisboa by Wyndham,
Torres Vedras
entrada gratuita

R. Strauss (1864 – 1949)
Till eulenspiegel einmal anders! (Arr. Franz Hasenoehrl)
N. Peixoto de Pinho (n. 1980) A dança do velho lobo


L. V. Beethoven (1756 – 1791)

Septeto em Mib Maior, op. 20
I. Adagio – Allegro con brio
II. Adagio cantabile
III. Tempo di minuetto
IV. Tema con variazione – Andante V. Scherzo. Allegro molto e vivace VI. Andante con moto alla marcia

Massimo Spadano – violino

ENSEMBLE DARCOS

De forte pendor imagético, com um excecional sentido da dramatização e colorido orquestral, o humorado poema sinfónico Till Eulenspiegel lustige Streiche [As Alegres Travessuras de Till Eulenspiegel], op.28, de Richard Strauss (1864-1949), narra as desventuras de Till, figura irreverente do folclore medieval alemão, aqui personificado por 2 motivos melódicos: um heróico ascendente (tocado pela trompa) e outro curto, qual gargalhada (tocado pelo clarinete). Após sucessivos episódios, Till é capturado, julgado e enforcado. Escrito entre 1894-95, seria estreado a 6 de Maio de 1895 pela Orquestra Gürzenich de Colónia, sob direção de Franz Wülner (1832-1902). No concerto de hoje ouviremos Till Eulenspiegel einmal anders! [Um outro Till Eulenspiegel!], adaptação do poema sinfónico original para violino, clarinete, trompa, fagote e contrabaixo, da autoria de Franz Hasenoehrl (1885-1970), que a apelidou de grotesco musical e a estreou em 1954.
Natural de São João da Madeira, e licenciado em Composição pela Escola Superior de Música do Porto, Nuno Peixoto de Pinho (1980) foi o vencedor da 2a edição do Prémio DARCOS 2024. Para clarinete solista, A Dança do Velho Lobo é dedicada ao avô, “homem vivo e enérgico que luta, sofre, ama e vence”. A obra está estruturada à volta de três elementos orgânicos, Vida, Recordar e Evolução, evocativos da adolescência e passado recente do compositor. Nesta deambulação biográfica, de discursividade musical de forte predominância rítmica e agressividade tímbrica, chegam-nos ecos do grupo rock Metallica e, por último, do compositor espanhol Mauricio Sotello (1961), confessada influência musical de Peixoto do Pinho.
Dedicado à imperatriz Maria Teresa de Bourbon (1772-1807), que nutria uma singular predileção por música com sete instrumentos, o Septeto em Mi bemol maior, op. 20, de Ludwig van Beethoven (1756-1791) foi concluído em meados de 1800 e estreado a 2 de Abril desse ano, no Hoftheater de Viena, num concerto que incluiu a 1a audição da Sinfonia no. 1, op.21. Organizado em 6 andamentos, para um ensemble de instrumentos peculiar, violino e clarinete (verdadeiros protagonistas ao longo da obra), fagote, trompa, viola, violoncelo e contrabaixo, apresenta uma verve melódica própria do universo estilístico do classicismo vienense do século XVIII, ainda longe da linguagem disruptiva, de pendor romântico, que caracterizaria a música de Beethoven e revolucionaria o panorama musical europeu do século XIX.

IMPRESSÕES ÍNTIMAS COM MANUELA COUTO > 8 FEV

COM APRESENTAÇÃO DE NUNO CÔRTE-REAL

8 de fevereiro sábado / 18:00 e 21:30

Espaço Darcos, Torres Vedras

Entrada gratuita mediante inscrições: brunamoreira.darcos@gmail.com

F. Mompou (1893 – 1987)
Impressões Íntimas
com poesia de Eugénio D’Andrade, Carlos Oliveira, Sophia, Emanuel de Sousa, Fernando Guimarães, Nuno Júdice e David Mourão Ferreira
Manuela Couto – declamação, Helder Marques – piano

A identidade e a intimidade são construções históricas, erigidas por meio de discursos e práticas que, ao longo dos séculos, em diferentes sociedades, assumiu uma configuração própria. Ao circunscrevermos a experiência individual, do que é ser, do que é interior, cruzamos a fronteira do uno e indiviso em direção ao plural, ao exterior, diferentes níveis da expressão da relação com o outro, o afeto, o amor, a revelação. Na sociedade pós-moderna, ser-se visto e comentado por incontáveis olhares, em que o horizonte e a materialidade discursiva da tecnologia digital parece incitar a uma miríade de discursos, verbais e visuais, um vortex social, (re)configurou-se o que, historicamente, denominamos de intimidade. Estamos mais próximos mas, nem por isso, mais íntimos.
Dizia Adolfo Casais Monteiro (1908-1972), a propósito de Fernando Pessoa (1888-1935) “A missão do poeta não é ser sincero, mas ser verídico”, o poeta é “o confessor de toda a gente”. E neste ato de contrição, Nuno Côrte-Real (1971) escolheu poesia de Sophia de Mello Breyner (1919-2004), Carlos Oliveira (1921-81), Eugénio d’Andrade (1923-2005), David Mourão Ferreira (1927-1996), Fernando Guimarães (1928), Nuno Júdice (1949-2024) e Emanuel de Sousa para ilustrar esta voz interior, qual vocalidade maternal uterina.
É neste ambiente que emerge a música de Frederic Mompou i Dencausse (1893-1987), figura singular do séc. XX espanhol. O seu ideal estético, “uma música que é a voz do silêncio”, sem lacunas nem ornamentos, era assumidamente inspirado no verso de São João da Cruz (1542-1591) “música tranquila”. Não por acaso, a sua primeira obra, publicada em 1920 e revista em 1959, um conjunto de 9 miniaturas para piano solo, escritas entre 1911 e 1914, tem como título Impressiones íntimas. Influenciado pelo impressionismo francês, particularmente pelo minimalismo de recursos invocados por Erik Satie (1866-1925) e Gabriel Fauré (1845-1924), Mompou transporta o ouvinte para um universo musical discreto, de emoções delicadas e gestos contidos, a essência do ser. Minimalista na forma, as peças assentam em melodias de natureza introspectiva, acompanhadas por um contraponto suave de progressões harmónicas.
Estes elementos servem para criar uma sensação de intimidade e vulnerabilidade em toda a coleção, como se o compositor estivesse a sussurrar pensamentos e emoções pessoais. A música evoca uma sensação de introspecção e contemplação, convidando os ouvintes a explorar as suas próprias memórias e sentimentos, numa conexão profunda e ressonância emocional com a música.

CONCERTO DE NATAL > 7 & 8 Dez

7 dezembro / sábado / 19h00 – ANFITEATRO CHIMICO, MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA NATURAL E DA CIÊNCIA, LISBOA
entrada gratuita

8 dezembro / dom. / 17h00 – HOTEL GOLF MAR, PORTO NOVO, TORRES VEDRAS
entrada gratuita

André Henriques / barítono

Helder Marques / piano

Programa:

Fado do Macaco, Canção do Bandido / Nuno Côrte-Real

Eine hex steinhalt, Hansel und Gretel / E. Humperdinck

My little welsh home, Canção galesa / Gwynn Williams

Meu Alentejo / popular portuguesa

Grosser Herr, Weinachts Oratorium / J. S. Bach

The people that walked, Messiah / Handel

Why do the nations, Messiah / Handel

The trumpet shall sound, Messiah / Handel

The roadside fire / Vaughan Williams

Away in a manger /popular de Natal

Still, still, still / popular de Natal

Num Mundo globalizado, em que o Natal se metamorfoseou numa sucessão de lugares comuns, mais materiais que espirituais, é, ainda, a Música, a sustentar parte do seu carácter espiritual, do convite à concórdia e paz entre os homens.

Mestre em Opera Performance pelo Royal Welsh College of Music and Drama, Cardiff, André Henriques é uma das vozes mais fascinantes do panorama musical português, trazendo a concerto um repertório transversal e que nos conduz por paisagens musicais diversas.

Começamos pela ópera com o humorado Fado do Macaco, da Canção do Bandido (2018), com música de Nuno Côrte-Real (1971) e letra de Pedro Mexia (1972). Segue-se a ária Eine Hex’, steinalt, da ópera Hansel und Gretel (1891-1892) de Engelbert Humperdinck (1854-1921).

Para todos aqueles que vivem apartados dos seus, a saudade de casa é particularmente premente neste período. Do País de Gales ouviremos My little welsh home (1950) de Gwynn Williams (1896-1978) e Meu Alentejo, uma das letras mais inspiradas do cancioneiro tradicional português.

Chegados ao Barroco, a ária “Großer Herr”, que celebra a dignidade régia de Jesus recém-nascido, da Cantata I da Oratória de Natal. Escrita por Johann Sebastian Bach (1685-1750) para as festividades natalícias de 1734-35, a Oratória de Natal é um ciclo de 6 cantatas para cada uma das 6 festas religiosas entre o Dia de Natal e a Festa da Epifania.

Seguem-se três árias da oratória The Messiah de Georg Friedrich Händel (1685-1759), com libreto de Charles Jennens (1700-1773). Haverá poucas obras do repertório clássico com o impacto desta oratória ao longo dos séculos, sendo, no contexto da História da Música Ocidental, a primeira obra a ser apresentada em concerto, de forma continuada, desde a sua estreia, em 1742, até ao presente. Na ária The people that walked, Cristo é a Luz que virá, em Why do the nations, o ungido injustamente acusado e em The trumpet shall sound o juiz que dará a vida eterna.

Por último, The roadside fire, do ciclo Songs of Travel (1904) de Vaughan Williams (1872-1958), com poemas de Robert Stevenson (1850-1894), Still,Still, Still, canção tradicional de Salzburgo (Áustria), e Away in a manger, a popular canção natalícia de Chicago (E.U.A.).

CANTE – Concerto Celebração 10 Anos > 27 nov

Celebração 10 Anos Património Universal – Em parceria com a Câmara Municipal de Serpa e o Museu do Cante de Serpa

27 nov. / quarta-feira / 21h30 – CASA DO ALENTEJO, LISBOA

Entrada Livre

N. Côrte-Real (n. 1971) Cante (Novíssimo Cancioneiro – Livro Segundo)
Nuno Côrte-Real / arranjos e direção musical
Pedro Teixeira / maestro do Coro

CORO RICERCARE ENSEMBLE DARCOS

A 27 de Novembro de 2014, o Cante alentejano foi declarado Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNE- SCO). Como exemplarmente definido na candidatura então apresentada, o “(can) to da (te)rra”, é um canto coletivo, polifónico, em compasso lento, quase sempre melancólico, sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia, associado geograficamente ao Baixo Alentejo, retratando a “ligação umbilical do trabalhador com a terra-mãe”. Ou inteiramente masculino ou feminino, o Cante tem como estrutura musical duas vozes solistas, o ponto e o alto, alternando com um coro, em estrofes repetidas num ciclo o número de vezes que os cantores desejarem. É a expressão de um povo, tradição vernacular única, refletindo a identidade e a história de uma comunidade e de uma região.
Em parceria com o Museu do Cante de Serpa, comemoram-se os 10 anos da declaração como Património Cultural Imaterial da Humanidade, com o Livro Segundo, op.57, do Novíssimo
Cancioneiro de Nuno Côrte-Real (1971). Dedicado a Maria Pinto Cortez e ao seu Cancioneiro de Serpa (1994), recolha etnográfica incontornável, feito ao longo de uma vida, e profusamente ilustrado pela autora, o Livro Segundo, op.57, resulta, também ele, da recolha etnográfica na cidade de Serpa por parte do compositor que, fruto de uma circunstância familiar ocasional, aí passou a sua infância.
Discursos musicais externos multiplicam-se, enquanto roupagem que parecem desviar o Cante da sua identidade e autenticidade. Mas ao contrário do que parece, não desviam nem se sobrepõem. Ao invés da transparência da música de Côrte-Real, deparamo-nos com uma opacidade incaracterística, qual partitura caiada, emulando o branco do casario. Pressente-se neste Livro Segundo uma rudeza propositada, um canto percussivo e penetrante, que ecoa na serenidade lírica da planície alentejana. É a rudeza dos árduos dias de trabalho, de uma existência de miséria, uma pobreza compassada e dilacerante, que tinha no Cante e na sua poesia, uma expressão e um escape.

CONCERTO “FILARMONICA ARTURO TOSCANINI” > 5 & 6 NOV

5 nov. / terça-feira / 21h30

TEATRO-CINE TORRES VEDRAS

bilhetes à venda nos locais habituais

6 nov. / quarta-feira /21h00

AULA MAGNA DA REITORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
entrada gratuita

N. Côrte-Real (n. 1971) Banksters Suite (da ópera Banksters)

Sinfonia no 6 em Fa Maior “Pastoral”, op. 93

Mihaela Costea, /violino
Nuno Côrte-Real / direção musical

FILARMONICA ARTURO TOSCANIN

Encomenda do Teatro Nacional de São Carlos a Nuno Côrte-Real (1971), a ópera Banksters estreou em 2011, com libreto de Vasco Graça Moura (1942- 2014), segundo a peça de teatro Jacob e o Anjo (1930) de José Régio (1901- 1969). O nome resulta da junção da palavra bankers [banqueiros] com gangsters [bandidos]. Santiago Malpago, grande senhor da finança, é visitado por Angelino Rigoletto (anjo ou demónio?) com a missão óbvia de levar o banqueiro à ruina, ardil lançado por Mimi Kitsch, mulher de Santiago, de uma ambição desmesurada. Em estreia absoluta, a Banksters Suite (2024) recupera os principais ambientes sonoros da ópera, assumindo-se como uma narrativa sem palavras.
Figura de referência do panorama musical francês, Marc-Olivier Dupin (1954) compôs Variações sobre a Traviata de Verdi em 2011, uma sucessão das principais melodias da famosa ópera (1853) do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901). Por último, a Sinfonia n.o 6, op.68, composta num período particularmente difícil da vida de Ludwig van Beethoven (1770-1827), em que a surdez se manifestava de forma irreversível. Esboçada em 1802, o grosso da sua escrita decorreu entre 1806 e 1808, enquanto a Sinfonia n.o5, op.67, era terminada. Em plena segunda fase criativa, o chamado estilo heróico, Beethoven utiliza a Música enquanto meio para expressar realidades e conteúdos extra- musicais, uma retórica musical relacionada com a evocação explícita de retratos poéticos da vida rural, não numa lógica narrativa antes sensorial.

Não por acaso, o título original era Lembranças da Vida Campestre, passando a Pastoral pouco tempo antes da sua estreia, a 22 de Dezembro de 1808, em Viena, no concerto em que, igualmente, estrearia a Sinfonia n.o 5, o Concerto para piano n.o4, op.58, e a Fantasia Coral, op.80. No programa de sala desse concerto, Beethoven fez imprimir uma pequena legenda explicativa para cada andamento.

Em forma sonata, o 1o andamento evoca o Despertar de sentimentos alegres na chegada ao campo. Profundamente sereno, o 2o andamento corresponde a uma Cena à beira do riacho, que termina elegantemente com o chilrear dos pássa- ros. Segue-se o Alegre convívio de camponeses, interrompido pelos Trovões e tempestade. Às melodias propositadamente rústicas segue-se uma violenta tempestade, na tradição barroco- -clássica, cheia de efeitos onomatopaicos. Por último, o Canto do pastor: sentimentos alegres e gratos após a tempestade, hino de gratidão para com a Natureza.

ENSEMBLE DARCOS > 12 & 13 OUT

12 outubro / sábado / 19h00 ANFITEATRO CHIMICO, MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA NATURAL E DA CIÊNCIA, LISBOA / entrada gratuita

13 outubro / domingo / 17h00 IGREJA DO CAS RUNA, TORRES VEDRAS
entrada gratuita

M. Ravel (1875 – 1937)

Sonata para Violino e Violoncelo

I. Allegro
II. Très vif
III. Lent
IV. Vif, avec entrain

P. Faria Gomes (n. 1979)

Elegia para violoncelo solo

W. A. Mozart (1756 – 1791)

Divertimento para trio de cordas em Mib Maior, K.
I. Allegro II. Adagio
III. Minuetto (allegretto) IV. Andante

ENSEMBLE DARCOS

Ficou para a História a resposta de Maurice Ravel (1875-1937) sobre o seu relacionamento com o reputadíssimo Claude Debussy (1862-1918), “prova- velmente é melhor para nós mantermos gélidos termos por razões ilógicas”. Não por acaso, após a morte de Debussy, Ravel viria a ser considerado o principal compositor francês.

No ano seguinte, La Revue Musicale publicaria um suplemento em homenagem ao compositor defunto, contando com contribuições da elite musical parisiense de então, Bela Bartók (1881-1945), Paul Dukas (1865-1935), Manuel de Falla (1876-1946), Erik Satie (1866-1925), Igor Stravinsky (1882-1971) e Ravel, com um allegro para violino e violoncelo, génese da futura sonata. Escrita entre 1920-22, dedicada à memória de Debussy, e estreada a 6 de Abril de 1922, a sonata M.73 tem como enfase compositivo a melodia e a transformação temática cíclica. A figuração inicial do violino, com a sua ambiguidade tonal maior-menor percorre toda a obra, num gesto de economia de meios mas também de grande unidade, a que se vem juntar a apetência por ambi- entes decalcados do folclore húngaro.

Doutorado em composição pelo Royal College of Music, Londres, Pedro Faria Gomes (n.1979) compôs Elegia entre Março e Abril de 2007, no seguimento de uma encomenda do Prémio Jovens Músicos 2007 / Rádio e Televisão de Portugal. Para violoncelo solo, trata-se, nas palavras do compositor de “um lamento sobre a perda desnecessária”, em dois planos contrastantes, um exterior “em toada mais forte e rápida” e outro mais interior “lento e piano, em recolhimento”.

Completado a 27 de Setembro de 1788, no mesmo ano em que Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) escreveu as últimas sinfonias (nos 39, 40 e 41), o Divertimento para trio de cordas K.563 é uma obra incomparável no seu género. Dedicado a Johann von Puchberg (1741-1822), amigo e facilitador de um empréstimo a Mozart nesse preciso ano, o Divertimento está divido em seis andamentos, contrastantes entre si, apresentando uma intensidade mais próxima da música concertante do que da música de câmara e provocando espanto pela riqueza contrapontística da relação de forças entre instrumentos, num diálogo musical ininterrupto.

LISBON-KABUL: MUSIC ITINERARIES OF WONDER > 14 SET

14 setembro / sábado / 21:30 – CONSERVATÓRIO DE MÚSICA CALOUSTE GULBENKIAN, BRAGA

Entrada Livre

Fados, música tradicional afegã, e duas canções de Miguel Amaral (n. 1982) e Nuno Côrte-Real (n. 1971)

Marco Oliveira / voz
Miguel Amaral / guitarra portuguesa

Nuno Côrte-Real / direção musical e apresentação

ENSEMBLE DARCOS

ANIM – Instituto Nacional de Música do Afeganistão

Fundado em 2008, o Afghanistan National Institute of Music (ANIM) tem-se notabilizado por um trabalho contínuo na salvaguarda e transmissão do património musical afegão bem como na promoção de igualdade de género, de que se destaca a orquestra Zohra, composta por 35 mulheres. Quando, a 15 de Agosto de 2021, se deu a queda de Cabul, a música foi proibida pelo regime Talibã. Coube a Portugal acolher 273 refugiados, dentre os quais alunos e professores do ANIM. Este acto, de uma relevância transcendente, que não acolheu a devida atenção da sociedade civil portuguesa, permitiu salvar não apenas vidas humanas (especialmente de jovens raparigas) mas também uma tradição musical ameaçada. A identidade cultural de um povo assenta, entre outros matizes, na forma como se expressa musicalmente. Ainda que marcada pela proximidade com a Índia, e as suas seculares tradições musicais, a música afegã soube desenvolver um idioma próprio, fulgurante nas matizes diferenciais, que despertou a atenção de muitos além-fronteiras.

Acresce que o seu impacto junto das gerações mais novas afegãs foi decisivo para agilizar um diálogo intergeracional e para a integração da mulher numa sociedade profundamente opressiva e tradicionalmente patriarcal. Nesta intersecção entre tradições musicais, entre idiomas diferentes, nasce um diálogo intercultural, um itinerário que partindo da Música enquanto linguagem comum a todos os povos, desemboca na maravilha deste encontro a várias mãos. Por entre o tanger de rubabs, domburas e ghijaks (instrumentos de corda afegãos) escutaremos duas obras em estreia: um fado de Miguel Amaral (n. 1982), jovem solista da Guitarra Portuguesa e uma canção de Nuno Côrte-Real (n. 1971), escrita aos 19 anos, num “momento de trovador punk”, segundo palavras do próprio.

VISIONES – Estreia absoluta de canções de Nuno Côrte-Real > 19 & 20 JUL

Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real escritas para a voz de Maria Mendes

19 julho / sexta-feira / 21h30

TEATRO-CINE DE TORRES VEDRAS

bilhetes à venda nos locais habituais

20 julho / sábado / 21h30

FESTIVAL CISTERMÚSICA, ALCOBAÇA
bilhetes à venda nos locais habituais

Ciclicamente, somos fustigados por ventos oscilantes, onde as raízes que nos prendem à mundividência parecem soltar- se. Oscilamos, qual barca à deriva, sem norte, sem vento, sem maré.
É o caminho da incerteza, de sombras oblíquas, povoado de visões e espectros. Até onde caminhamos? Federico García Lorca (1898-1936), figura maior da lírica castelhana do século XX, procurou dar resposta a este sentimento, através de uma obra impregnada de visões poético-musicais de paixão e morte, de premonições, de desenganos, num arrebatamento desconcertante sem paralelo na história
da poesia ocidental. Disso é exemplo o Divã de Tamarit, coletânea de 21 poemas escritos durante os verões de 1931-34, na Huerta de San Vicente, a sua casa familiar de veraneio, às portas de Granada. Os poemas dividem-se em 12 gazeis e 9 casidas, formas poéticas da herança árabe granadina (divã é o termo para, justamente, uma coleção de gazeis e casidas). Visiones é um novo ciclo de canções
de Nuno Côrte-Real (1971), partindo de sete poemas do Divã de Lorca: os gazeis Del amor imprevisto, Del amor deses- perado, Del amor maravilloso e Del niño muerto; e as casidas De la mujer tendida; De la muchacha dorada e De las palomas oscuras. Como motivo unificador, o tema do 1o andamento do trio op.97 de Beethoven (1770-1827), uma idée fixe que percorre a atmosfera elegíaca
do ciclo, encerrando-o. Igualmente, dois corais de J.S.Bach (1685-1750), pontos de referência no horizonte obscuro da lírica de Lorca, nas palavras do compositor. São espetros poético-musicais, onde a dignidade, e a sua ausência, amor e morte, vão para além do surrealismo lírico, em jeito de apaziguamento pétreo.
No horizonte criativo de Côrte-Real esteve a voz caleidoscópica de Maria Mendes (1985), figura aclamada do jazz europeu. Sendo a única artista portuguesa no feminino a receber uma nomeação para os Grammy Americanos, em 2020 venceu o prestigiado EDISON Jazz Awards. É famosa a entrevista de Lorca a Luis Bagaría, redator do El Sol de Madrid, em que se afirma partidário “dos pobres, dos que não têm nada”, não havendo forma de evitar a compaixão pelos “perseguidos, o cigano, o negro,
o judeu, o mouro que todos trazemos dentro de nós”. Visiones é uma longa interrogação sobre a vida. A barca partiu, mas o destino é incerto.