VISIONES – Estreia absoluta de canções de Nuno Côrte-Real > 19 & 20 JUL

Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real escritas para a voz de Maria Mendes

19 julho / sexta-feira / 21h30

TEATRO-CINE DE TORRES VEDRAS

bilhetes à venda nos locais habituais

20 julho / sábado / 21h30

FESTIVAL CISTERMÚSICA, ALCOBAÇA
bilhetes à venda nos locais habituais

Ciclicamente, somos fustigados por ventos oscilantes, onde as raízes que nos prendem à mundividência parecem soltar- se. Oscilamos, qual barca à deriva, sem norte, sem vento, sem maré.
É o caminho da incerteza, de sombras oblíquas, povoado de visões e espectros. Até onde caminhamos? Federico García Lorca (1898-1936), figura maior da lírica castelhana do século XX, procurou dar resposta a este sentimento, através de uma obra impregnada de visões poético-musicais de paixão e morte, de premonições, de desenganos, num arrebatamento desconcertante sem paralelo na história
da poesia ocidental. Disso é exemplo o Divã de Tamarit, coletânea de 21 poemas escritos durante os verões de 1931-34, na Huerta de San Vicente, a sua casa familiar de veraneio, às portas de Granada. Os poemas dividem-se em 12 gazeis e 9 casidas, formas poéticas da herança árabe granadina (divã é o termo para, justamente, uma coleção de gazeis e casidas). Visiones é um novo ciclo de canções
de Nuno Côrte-Real (1971), partindo de sete poemas do Divã de Lorca: os gazeis Del amor imprevisto, Del amor deses- perado, Del amor maravilloso e Del niño muerto; e as casidas De la mujer tendida; De la muchacha dorada e De las palomas oscuras. Como motivo unificador, o tema do 1o andamento do trio op.97 de Beethoven (1770-1827), uma idée fixe que percorre a atmosfera elegíaca
do ciclo, encerrando-o. Igualmente, dois corais de J.S.Bach (1685-1750), pontos de referência no horizonte obscuro da lírica de Lorca, nas palavras do compositor. São espetros poético-musicais, onde a dignidade, e a sua ausência, amor e morte, vão para além do surrealismo lírico, em jeito de apaziguamento pétreo.
No horizonte criativo de Côrte-Real esteve a voz caleidoscópica de Maria Mendes (1985), figura aclamada do jazz europeu. Sendo a única artista portuguesa no feminino a receber uma nomeação para os Grammy Americanos, em 2020 venceu o prestigiado EDISON Jazz Awards. É famosa a entrevista de Lorca a Luis Bagaría, redator do El Sol de Madrid, em que se afirma partidário “dos pobres, dos que não têm nada”, não havendo forma de evitar a compaixão pelos “perseguidos, o cigano, o negro,
o judeu, o mouro que todos trazemos dentro de nós”. Visiones é uma longa interrogação sobre a vida. A barca partiu, mas o destino é incerto.