GRANDES QUARTETOS I > 20 & 21 junho

20 de junho / sexta-feira, 21:30 – Igreja do CAS Runa, Torres Vedras – entrada gratuita

21 de junho / sábado, 19:00 – Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisboa – entrada gratuita

ENSEMBLE DARCOS

Quarteto de Cordas nº 5 « Popular » – H. Vila Lobos (1887-1959) e Caged Symphonies

Vasco Mendonça (n.1977)
C. Debussy (1862 – 1918)
Quarteto de cordas em sol menor, op. 10
I. Animé et très décidé
II. Assez vif et bien rythmé
III. Andantino, doucement expressif
IV. Très modéré – Très mouvementé et avec passion

Escritas no alvor da I Guerra Mundial, as Três Peças para Quarteto de Cordas de Igor Stravinsky (1882-1971) foram concluídas em Setembro de 1914, sendo estreadas a 8 de Novembro do ano seguinte, em Chicago. Viriam a ser revistas em 1918 e publicadas em 1922. Miniaturas estanques, com um vocabulário musical que hoje denominaríamos de minimalista, pela concisão de recursos apresentados, as Três Peças exploram as possibilidades tímbricas dos instrumentos de corda. A 1a peça assenta numa nota pedal, qual sanfona, e de uma melodia evocativa do folclore russo. A 2a peça é inspirada na atuação do palhaço de music hall inglês, Little Tich (1867-1928), com padrões fragmentados e os pizzicati, qual gargalhadas. O último andamento é de pendor elegíaco, canto litúrgico obscuro e dissonante.

O Quarteto de cordas n.0 3, de António Pinho Vargas (1951), resulta de uma encomenda do Instituto Superior Técnico, aí sendo estreado, pelo Quarteto de Cordas de Matosinhos, no âmbito do 37.0 Festival de Música do Estoril, a 12 de Julho de 2012. Nas palavras do compositor, cada peça constitui “estar-lançado”, baseada na “liberdade do ato criativo” como “gerador dos materiais e organizador, tanto das suas relações, como da forma”. Tal como faz questão de sublinhar, “o percurso narrativo ou discursivo de cada um dos dois andamentos da peça” constituem uma “metáfora comum”, um percurso da ordem para uma “certa forma de caos”, convidando cada ouvinte “à percepção sensível”, uma significação específica, e “certamente diversa” desses conceitos.

Em Agosto de 1893, Claude Debussy (1862-1918) escrevia ao seu amigo André Poniatowski “Penso que, finalmente, te posso mostrar o último andamento do quarteto, que me tem atormentado desde há muito”. Debussy referia-se ao Quarteto de cordas em sol menor, op.10, L91, obra seminal do impressionismo europeu, cuja composição iniciara um anos antes. Audaciosamente revolucionário, Debussy reconfigurou a canónica arquitetura musical germânica, dela fazendo tabula rasa, baseando-se no princípio cíclico temático-motívico, assente em variações e subtis transformações harmónicas ao longo de toda a obra. O tema do 10 andamento é a base dos diversos componentes temáticos da restante obra, sendo de destacar o longueurs e sensualidade do 30 andamento, bem como o ritmo fervilhante do scherzo, numa conjugação magistral de texturas tímbricas. Viria a estrear, na Salle Pleyel de Paris, a 29 de Dezembro de 1893, pelo prestigiado quarteto do violinista Eugène Ysaÿe (1858-1931), a quem a obra é dedicada.

CAMÕES NA ETERNIDADE DO TEMPO > 8 & 9 MAI


Co-produção entre Temporada Darcos e Universidade de Lisboa no quinto centenário do nascimento do poeta

8 de maio / quinta-feira, 21:30
Centro de Artes e Criatividade, Torres Vedras

entrada gratuita

9 de maio / sexta-feira, 21:00

Pavilhão de Portugal, Lisboa

entrada gratuita

Ana Quintans soprano
Vítor D’Andrade declamação

Nuno Côrte-Real direção musical

ENSEMBLE DARCOS

Programa:

N. Côrte-Real (n. 1971)
“Se misericórdia e amor não vos atara” – Poema inédito de Luis de Camões descoberto por Nuno Júdice
J. Dowland (1563 – 1626) / Nuno Côrte-Re- al (n.1971)
Time Stands Still
I. Mr. Sérgio Azevedo’s Prelude
II. “Come again! sweet Love doth now invite” III. Mr. António Pinho Vargas Pavan
IV. “Flow, my tears”
V. Mr. Artur Ribeiro’s Air
VI. “Awake, sweet love”
VII. Mr. Mats Lidstrom his Fantasia
VIII. “I saw my lady weep”
IX. Sir Christopher Bochmann his atonal transition
X. “Shall I sue”
XI. Mr. Eurico Carrapatoso’s Fugue
XII. “Weep you no more, sad fountains”
XIII. Lady Maria João’s Improvisation
XIV. “Time stands still”
XV. ”I Know not what tomorrow will bring” (Fernando Pessoa’s last written words on the day of his death)

Junto à entrada do Refeitório do Claustro do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, existe um relevo pétreo retratando Cristo atado a uma coluna. Daí surgiu o mote para a encomenda que a direção do monumento nacional fez a Nuno Côrte-Real (1971) para celebrar o V Centenário do nascimento de Luís Vaz de Camões (1524-1580), que aí repousa, pelo menos em espírito, num cenográfico túmulo diante de outro, o de Vasco da Gama (1469-1524). Em Se misericórdia e amor não vos atara, Côrte-Real recupera o soneto homónimo, primeiro recitado, depois cantado, envolto num panejamento musical a seu tempo onírico, apaixonado, tenso, abrupto, pulsante e discordante, num jogo tímbrico de grande lirismo.
Time Stands Still resulta de uma encomenda do Centro Cultural de Belém para o Festival Dias da Música, em 2019, aí tendo estreado, a 27 de Abril. Sete canções do compositor renascentista inglês John Dowland (†1626) são intercaladas com outros tantos interlúdios instrumentais de Nuno Côrte-Real, dedicados a amizades do seu universo pessoal. Como então afirmou “Apesar de já estarmos longe desse período da História, há, porém, uma certa melancolia nas entrelinhas do nosso tempo que tornam estas canções vivíssimas”.
A sobriedade de Dowland resplandece em cada canção, contrastantes entre si, ora melancólicas ora animadas, mas sempre expressivas, baseando-se nas duas danças então em voga, a pavana (lenta) e a galharda. Os interlúdios revelam a pluralidade de Côrte-Real, a inspirada aproximação a universos musicais distintos, numa saborosa simbiose, informal e descomplexada.
Da pureza cristalina da música de John Dowland, Nuno Côrte-Real reflexiona e reflete. Não imita, não distorce. A imagem de um espelho duplo, em que Dowland se vê enclausurado nuns modernos jeans e Côrte-Real num imponente rufo branco plissado, um olhar contemporâneo sobre o antigo. Mas, não se confunda contemporaneidade com modernidade. Ambos autores são modernos, cada um circunscrito a uma contemporaneidade do tempo histórico que habitam. São ambos musicus poeticus na sua mundividência, na sua evasão da realidade, procurando o infinito, o gesto teatral, volvendo numa espiral de tensões e distensões, numa magnificência singelamente natural, sem subterfúgios supérfluos.
Como nos diz Afonso Miranda, “a obra conclui com uma meditação sobre o mistério do tempo, a imobilidade da mudança, a eternidade”. O Tempo está parado.

ORQUESTRA SINFÓNICA DE BERLIM > 23 & 24 ABRIL

Nuno Côrte-Real, direção musical

BERLINER SYMPHONIKER

13 de abril / domingo, 15:30 – Philharmonie, Berlim
23 de abril / quarta-feira, 21:00 – Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra
bilhetes à venda nos locais habituais
24 de abril / quinta-feira, 21:00
Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa
entrada gratuita

W. A. Mozart (1756 – 1791)

Abertura da ópera “A flauta mágica”
N. Côrte-Real (n. 1971) Sinfonia 2022
I. In search of darkness II. Song of death
III. Fado (apocalyptic song) IV. Nuclear marching band


J. Brahms (1833 – 1897)
Sinfonia N0 1, em Dó menor, op. 68
I. Un poco sostenuto – Allegro
II. Andante sostenuto
III. Un poco allegretto e graciozo
IV. Adagio – Più andante – Allegro non troppo, ma con brio – Più allegro

Considerada como uma das principais orquestras da Alemanha, a Berliner Symphoniker começou a sua actividade em 1967, sendo então denominada Symphonisches Orchester Berlin. Renomeada em 1990, é a 1a vez que actua em Portugal.
Die Zauberflöte [A Flauta Mágica], kv620, é a derradeira ópera de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), tendo estreado em Viena, a 30 de Setembro de 1791, a escassas semanas da morte do compositor. Conta a história de 2 príncipes apaixonados, Tamino e Pamina, que triunfam sobre os tremendos obstáculos que lhes são colocados, por entre cerimoniais iniciáticos, simbologia esotérica (o número 3) e magia infantil, da autoria de Emanuel Schikaneder (1751-1812). Graças a Mozart, e à variedade de soluções musicais convocada, a ópera revela uma coerência dramática espantosa. A Abertura, hoje em concerto, consiste na fórmula musical ABAB, em que A corresponde a um solene Adagio, três acordes ascendentes (o número 3 e a sua simbologia) e B a um Allegro fugato, demonstração da perícia contrapontística mozartiana, a que se vem juntar um sinuoso tema secundário no oboé e flauta.
A Sinfonia 2022, de Nuno Côrte-Real (1971), resulta de uma encomenda do Teatro Nacional de São, aí tendo estreado a 13 de Janeiro de 2023, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida pelo compositor. Obra de carácter “sombrio, tétrico e ominoso”, nas palavras de Côrte-Real, é uma “visão pessoal e espiritual” sobre a indefinição violenta que fustiga a civilização, sem abdicar da sua imagética plena de ironia. O 10 andamento apresenta um ostinato que nos suga para um vortex, o 20, de pendor mahleriano, o 30 andamento, um fado, momento de leveza dolente face à complexidade da vida e um 40 andamento, uma marcha grotesca rumo à destruição total.
Concluída em finais de 1876, após um longo processo criativo de mais de 20 anos, a Sinfonia n.0 1, em Dó menor, op. 68, de Johannes Brahms (1833-1897) estreou a 4 de Novembro de 1876, no Großherzogliche Hoftheater de Karlsruhe, sob direção de Felix Otto Dessoff (1835-92). À época, Brahms era encarado como o herdeiro de Beethoven (1770-1827) e da tradição sinfónica germânica, por oposição à música do futuro (a progressiva dissolução da forma e da harmonia tradicional) de Liszt (1811- 86) e Wagner (1813-83). De arquitetura musical sólida, a sinfonia assenta numa série de quadros sonoros contrastantes, de subtilezas rítmicas, cores e planos sonoros originais, partindo da habilidade de Brahms para trabalhar os temas melódicos. O 10 e 40 andamento complementam-se: a tensão e inquietude iniciais dão lugar ao otimismo heróico do último. O 20 andamento é de carácter intimista e bucólico, ao passo que o 30 andamento, o scherzo com ecos do imaginário pastoril campestre qual caminhante pelo campo.

CONCERTO DE NATAL > 7 & 8 Dez

7 dezembro / sábado / 19h00 – ANFITEATRO CHIMICO, MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA NATURAL E DA CIÊNCIA, LISBOA
entrada gratuita

8 dezembro / dom. / 17h00 – HOTEL GOLF MAR, PORTO NOVO, TORRES VEDRAS
entrada gratuita

André Henriques / barítono

Helder Marques / piano

Programa:

Fado do Macaco, Canção do Bandido / Nuno Côrte-Real

Eine hex steinhalt, Hansel und Gretel / E. Humperdinck

My little welsh home, Canção galesa / Gwynn Williams

Meu Alentejo / popular portuguesa

Grosser Herr, Weinachts Oratorium / J. S. Bach

The people that walked, Messiah / Handel

Why do the nations, Messiah / Handel

The trumpet shall sound, Messiah / Handel

The roadside fire / Vaughan Williams

Away in a manger /popular de Natal

Still, still, still / popular de Natal

Num Mundo globalizado, em que o Natal se metamorfoseou numa sucessão de lugares comuns, mais materiais que espirituais, é, ainda, a Música, a sustentar parte do seu carácter espiritual, do convite à concórdia e paz entre os homens.

Mestre em Opera Performance pelo Royal Welsh College of Music and Drama, Cardiff, André Henriques é uma das vozes mais fascinantes do panorama musical português, trazendo a concerto um repertório transversal e que nos conduz por paisagens musicais diversas.

Começamos pela ópera com o humorado Fado do Macaco, da Canção do Bandido (2018), com música de Nuno Côrte-Real (1971) e letra de Pedro Mexia (1972). Segue-se a ária Eine Hex’, steinalt, da ópera Hansel und Gretel (1891-1892) de Engelbert Humperdinck (1854-1921).

Para todos aqueles que vivem apartados dos seus, a saudade de casa é particularmente premente neste período. Do País de Gales ouviremos My little welsh home (1950) de Gwynn Williams (1896-1978) e Meu Alentejo, uma das letras mais inspiradas do cancioneiro tradicional português.

Chegados ao Barroco, a ária “Großer Herr”, que celebra a dignidade régia de Jesus recém-nascido, da Cantata I da Oratória de Natal. Escrita por Johann Sebastian Bach (1685-1750) para as festividades natalícias de 1734-35, a Oratória de Natal é um ciclo de 6 cantatas para cada uma das 6 festas religiosas entre o Dia de Natal e a Festa da Epifania.

Seguem-se três árias da oratória The Messiah de Georg Friedrich Händel (1685-1759), com libreto de Charles Jennens (1700-1773). Haverá poucas obras do repertório clássico com o impacto desta oratória ao longo dos séculos, sendo, no contexto da História da Música Ocidental, a primeira obra a ser apresentada em concerto, de forma continuada, desde a sua estreia, em 1742, até ao presente. Na ária The people that walked, Cristo é a Luz que virá, em Why do the nations, o ungido injustamente acusado e em The trumpet shall sound o juiz que dará a vida eterna.

Por último, The roadside fire, do ciclo Songs of Travel (1904) de Vaughan Williams (1872-1958), com poemas de Robert Stevenson (1850-1894), Still,Still, Still, canção tradicional de Salzburgo (Áustria), e Away in a manger, a popular canção natalícia de Chicago (E.U.A.).

CANTE – Concerto Celebração 10 Anos > 27 nov

Celebração 10 Anos Património Universal – Em parceria com a Câmara Municipal de Serpa e o Museu do Cante de Serpa

27 nov. / quarta-feira / 21h30 – CASA DO ALENTEJO, LISBOA

Entrada Livre

N. Côrte-Real (n. 1971) Cante (Novíssimo Cancioneiro – Livro Segundo)
Nuno Côrte-Real / arranjos e direção musical
Pedro Teixeira / maestro do Coro

CORO RICERCARE ENSEMBLE DARCOS

A 27 de Novembro de 2014, o Cante alentejano foi declarado Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNE- SCO). Como exemplarmente definido na candidatura então apresentada, o “(can) to da (te)rra”, é um canto coletivo, polifónico, em compasso lento, quase sempre melancólico, sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia, associado geograficamente ao Baixo Alentejo, retratando a “ligação umbilical do trabalhador com a terra-mãe”. Ou inteiramente masculino ou feminino, o Cante tem como estrutura musical duas vozes solistas, o ponto e o alto, alternando com um coro, em estrofes repetidas num ciclo o número de vezes que os cantores desejarem. É a expressão de um povo, tradição vernacular única, refletindo a identidade e a história de uma comunidade e de uma região.
Em parceria com o Museu do Cante de Serpa, comemoram-se os 10 anos da declaração como Património Cultural Imaterial da Humanidade, com o Livro Segundo, op.57, do Novíssimo
Cancioneiro de Nuno Côrte-Real (1971). Dedicado a Maria Pinto Cortez e ao seu Cancioneiro de Serpa (1994), recolha etnográfica incontornável, feito ao longo de uma vida, e profusamente ilustrado pela autora, o Livro Segundo, op.57, resulta, também ele, da recolha etnográfica na cidade de Serpa por parte do compositor que, fruto de uma circunstância familiar ocasional, aí passou a sua infância.
Discursos musicais externos multiplicam-se, enquanto roupagem que parecem desviar o Cante da sua identidade e autenticidade. Mas ao contrário do que parece, não desviam nem se sobrepõem. Ao invés da transparência da música de Côrte-Real, deparamo-nos com uma opacidade incaracterística, qual partitura caiada, emulando o branco do casario. Pressente-se neste Livro Segundo uma rudeza propositada, um canto percussivo e penetrante, que ecoa na serenidade lírica da planície alentejana. É a rudeza dos árduos dias de trabalho, de uma existência de miséria, uma pobreza compassada e dilacerante, que tinha no Cante e na sua poesia, uma expressão e um escape.

CONCERTO “FILARMONICA ARTURO TOSCANINI” > 5 & 6 NOV

5 nov. / terça-feira / 21h30

TEATRO-CINE TORRES VEDRAS

bilhetes à venda nos locais habituais

6 nov. / quarta-feira /21h00

AULA MAGNA DA REITORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
entrada gratuita

N. Côrte-Real (n. 1971) Banksters Suite (da ópera Banksters)

Sinfonia no 6 em Fa Maior “Pastoral”, op. 93

Mihaela Costea, /violino
Nuno Côrte-Real / direção musical

FILARMONICA ARTURO TOSCANIN

Encomenda do Teatro Nacional de São Carlos a Nuno Côrte-Real (1971), a ópera Banksters estreou em 2011, com libreto de Vasco Graça Moura (1942- 2014), segundo a peça de teatro Jacob e o Anjo (1930) de José Régio (1901- 1969). O nome resulta da junção da palavra bankers [banqueiros] com gangsters [bandidos]. Santiago Malpago, grande senhor da finança, é visitado por Angelino Rigoletto (anjo ou demónio?) com a missão óbvia de levar o banqueiro à ruina, ardil lançado por Mimi Kitsch, mulher de Santiago, de uma ambição desmesurada. Em estreia absoluta, a Banksters Suite (2024) recupera os principais ambientes sonoros da ópera, assumindo-se como uma narrativa sem palavras.
Figura de referência do panorama musical francês, Marc-Olivier Dupin (1954) compôs Variações sobre a Traviata de Verdi em 2011, uma sucessão das principais melodias da famosa ópera (1853) do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901). Por último, a Sinfonia n.o 6, op.68, composta num período particularmente difícil da vida de Ludwig van Beethoven (1770-1827), em que a surdez se manifestava de forma irreversível. Esboçada em 1802, o grosso da sua escrita decorreu entre 1806 e 1808, enquanto a Sinfonia n.o5, op.67, era terminada. Em plena segunda fase criativa, o chamado estilo heróico, Beethoven utiliza a Música enquanto meio para expressar realidades e conteúdos extra- musicais, uma retórica musical relacionada com a evocação explícita de retratos poéticos da vida rural, não numa lógica narrativa antes sensorial.

Não por acaso, o título original era Lembranças da Vida Campestre, passando a Pastoral pouco tempo antes da sua estreia, a 22 de Dezembro de 1808, em Viena, no concerto em que, igualmente, estrearia a Sinfonia n.o 5, o Concerto para piano n.o4, op.58, e a Fantasia Coral, op.80. No programa de sala desse concerto, Beethoven fez imprimir uma pequena legenda explicativa para cada andamento.

Em forma sonata, o 1o andamento evoca o Despertar de sentimentos alegres na chegada ao campo. Profundamente sereno, o 2o andamento corresponde a uma Cena à beira do riacho, que termina elegantemente com o chilrear dos pássa- ros. Segue-se o Alegre convívio de camponeses, interrompido pelos Trovões e tempestade. Às melodias propositadamente rústicas segue-se uma violenta tempestade, na tradição barroco- -clássica, cheia de efeitos onomatopaicos. Por último, o Canto do pastor: sentimentos alegres e gratos após a tempestade, hino de gratidão para com a Natureza.

ENSEMBLE DARCOS > 12 & 13 OUT

12 outubro / sábado / 19h00 ANFITEATRO CHIMICO, MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA NATURAL E DA CIÊNCIA, LISBOA / entrada gratuita

13 outubro / domingo / 17h00 IGREJA DO CAS RUNA, TORRES VEDRAS
entrada gratuita

M. Ravel (1875 – 1937)

Sonata para Violino e Violoncelo

I. Allegro
II. Très vif
III. Lent
IV. Vif, avec entrain

P. Faria Gomes (n. 1979)

Elegia para violoncelo solo

W. A. Mozart (1756 – 1791)

Divertimento para trio de cordas em Mib Maior, K.
I. Allegro II. Adagio
III. Minuetto (allegretto) IV. Andante

ENSEMBLE DARCOS

Ficou para a História a resposta de Maurice Ravel (1875-1937) sobre o seu relacionamento com o reputadíssimo Claude Debussy (1862-1918), “prova- velmente é melhor para nós mantermos gélidos termos por razões ilógicas”. Não por acaso, após a morte de Debussy, Ravel viria a ser considerado o principal compositor francês.

No ano seguinte, La Revue Musicale publicaria um suplemento em homenagem ao compositor defunto, contando com contribuições da elite musical parisiense de então, Bela Bartók (1881-1945), Paul Dukas (1865-1935), Manuel de Falla (1876-1946), Erik Satie (1866-1925), Igor Stravinsky (1882-1971) e Ravel, com um allegro para violino e violoncelo, génese da futura sonata. Escrita entre 1920-22, dedicada à memória de Debussy, e estreada a 6 de Abril de 1922, a sonata M.73 tem como enfase compositivo a melodia e a transformação temática cíclica. A figuração inicial do violino, com a sua ambiguidade tonal maior-menor percorre toda a obra, num gesto de economia de meios mas também de grande unidade, a que se vem juntar a apetência por ambi- entes decalcados do folclore húngaro.

Doutorado em composição pelo Royal College of Music, Londres, Pedro Faria Gomes (n.1979) compôs Elegia entre Março e Abril de 2007, no seguimento de uma encomenda do Prémio Jovens Músicos 2007 / Rádio e Televisão de Portugal. Para violoncelo solo, trata-se, nas palavras do compositor de “um lamento sobre a perda desnecessária”, em dois planos contrastantes, um exterior “em toada mais forte e rápida” e outro mais interior “lento e piano, em recolhimento”.

Completado a 27 de Setembro de 1788, no mesmo ano em que Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) escreveu as últimas sinfonias (nos 39, 40 e 41), o Divertimento para trio de cordas K.563 é uma obra incomparável no seu género. Dedicado a Johann von Puchberg (1741-1822), amigo e facilitador de um empréstimo a Mozart nesse preciso ano, o Divertimento está divido em seis andamentos, contrastantes entre si, apresentando uma intensidade mais próxima da música concertante do que da música de câmara e provocando espanto pela riqueza contrapontística da relação de forças entre instrumentos, num diálogo musical ininterrupto.

LISBON-KABUL: MUSIC ITINERARIES OF WONDER > 14 SET

14 setembro / sábado / 21:30 – CONSERVATÓRIO DE MÚSICA CALOUSTE GULBENKIAN, BRAGA

Entrada Livre

Fados, música tradicional afegã, e duas canções de Miguel Amaral (n. 1982) e Nuno Côrte-Real (n. 1971)

Marco Oliveira / voz
Miguel Amaral / guitarra portuguesa

Nuno Côrte-Real / direção musical e apresentação

ENSEMBLE DARCOS

ANIM – Instituto Nacional de Música do Afeganistão

Fundado em 2008, o Afghanistan National Institute of Music (ANIM) tem-se notabilizado por um trabalho contínuo na salvaguarda e transmissão do património musical afegão bem como na promoção de igualdade de género, de que se destaca a orquestra Zohra, composta por 35 mulheres. Quando, a 15 de Agosto de 2021, se deu a queda de Cabul, a música foi proibida pelo regime Talibã. Coube a Portugal acolher 273 refugiados, dentre os quais alunos e professores do ANIM. Este acto, de uma relevância transcendente, que não acolheu a devida atenção da sociedade civil portuguesa, permitiu salvar não apenas vidas humanas (especialmente de jovens raparigas) mas também uma tradição musical ameaçada. A identidade cultural de um povo assenta, entre outros matizes, na forma como se expressa musicalmente. Ainda que marcada pela proximidade com a Índia, e as suas seculares tradições musicais, a música afegã soube desenvolver um idioma próprio, fulgurante nas matizes diferenciais, que despertou a atenção de muitos além-fronteiras.

Acresce que o seu impacto junto das gerações mais novas afegãs foi decisivo para agilizar um diálogo intergeracional e para a integração da mulher numa sociedade profundamente opressiva e tradicionalmente patriarcal. Nesta intersecção entre tradições musicais, entre idiomas diferentes, nasce um diálogo intercultural, um itinerário que partindo da Música enquanto linguagem comum a todos os povos, desemboca na maravilha deste encontro a várias mãos. Por entre o tanger de rubabs, domburas e ghijaks (instrumentos de corda afegãos) escutaremos duas obras em estreia: um fado de Miguel Amaral (n. 1982), jovem solista da Guitarra Portuguesa e uma canção de Nuno Côrte-Real (n. 1971), escrita aos 19 anos, num “momento de trovador punk”, segundo palavras do próprio.

VISIONES – Estreia absoluta de canções de Nuno Côrte-Real > 19 & 20 JUL

Ciclo de canções de Nuno Côrte-Real escritas para a voz de Maria Mendes

19 julho / sexta-feira / 21h30

TEATRO-CINE DE TORRES VEDRAS

bilhetes à venda nos locais habituais

20 julho / sábado / 21h30

FESTIVAL CISTERMÚSICA, ALCOBAÇA
bilhetes à venda nos locais habituais

Ciclicamente, somos fustigados por ventos oscilantes, onde as raízes que nos prendem à mundividência parecem soltar- se. Oscilamos, qual barca à deriva, sem norte, sem vento, sem maré.
É o caminho da incerteza, de sombras oblíquas, povoado de visões e espectros. Até onde caminhamos? Federico García Lorca (1898-1936), figura maior da lírica castelhana do século XX, procurou dar resposta a este sentimento, através de uma obra impregnada de visões poético-musicais de paixão e morte, de premonições, de desenganos, num arrebatamento desconcertante sem paralelo na história
da poesia ocidental. Disso é exemplo o Divã de Tamarit, coletânea de 21 poemas escritos durante os verões de 1931-34, na Huerta de San Vicente, a sua casa familiar de veraneio, às portas de Granada. Os poemas dividem-se em 12 gazeis e 9 casidas, formas poéticas da herança árabe granadina (divã é o termo para, justamente, uma coleção de gazeis e casidas). Visiones é um novo ciclo de canções
de Nuno Côrte-Real (1971), partindo de sete poemas do Divã de Lorca: os gazeis Del amor imprevisto, Del amor deses- perado, Del amor maravilloso e Del niño muerto; e as casidas De la mujer tendida; De la muchacha dorada e De las palomas oscuras. Como motivo unificador, o tema do 1o andamento do trio op.97 de Beethoven (1770-1827), uma idée fixe que percorre a atmosfera elegíaca
do ciclo, encerrando-o. Igualmente, dois corais de J.S.Bach (1685-1750), pontos de referência no horizonte obscuro da lírica de Lorca, nas palavras do compositor. São espetros poético-musicais, onde a dignidade, e a sua ausência, amor e morte, vão para além do surrealismo lírico, em jeito de apaziguamento pétreo.
No horizonte criativo de Côrte-Real esteve a voz caleidoscópica de Maria Mendes (1985), figura aclamada do jazz europeu. Sendo a única artista portuguesa no feminino a receber uma nomeação para os Grammy Americanos, em 2020 venceu o prestigiado EDISON Jazz Awards. É famosa a entrevista de Lorca a Luis Bagaría, redator do El Sol de Madrid, em que se afirma partidário “dos pobres, dos que não têm nada”, não havendo forma de evitar a compaixão pelos “perseguidos, o cigano, o negro,
o judeu, o mouro que todos trazemos dentro de nós”. Visiones é uma longa interrogação sobre a vida. A barca partiu, mas o destino é incerto.